quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Pauta Contínua




No livro escrevo a canção
da musica da melodia da voz
ora distante ora aqui na mão
desfiro golpes profundos
massajo longas cicatrizes
acarinho amores audazes
reconheço faces minhas
tuas nossas vossas
expressões emoções várias
reflectidas projectadas
no que fui no que sou
no que seremos para onde vou
e aqui nos encontramos
hoje a página viramos
amanhã o novo retomamos
as brincadeiras de criança
outras com mais pujança
uniões e encontros
reuniões e desencontros
a dor o prazer
o amor o desentender
a revolta o enternecer
a traição o perdão
tudo peças deste cordão
leitura musical sem final.

domingo, 26 de dezembro de 2010

O Hoje De Ontem




hoje e sempre abalroado
atropelado pela alegria do regresso
à meninice ao tempo do processo
estancado num tempo passado

aquele semblante abreviado
no sorriso que desapareceu
e reapareceu no momento amado
um pedaço de alma que encheu

atrevida timidez me estremeceu
enrolando teus cabelos de sempre
fez despoletar o sonho na mente
o amor e um agora... renasceu

coração de mar delgado este
que se esquece de agitar paixão
pensa mas não actua no coração
teima não ferrar no que mexeste

sábado, 4 de dezembro de 2010

A Viagem




Caminham soltos à beira-rio,
seres eufóricos em silêncio,
estreitam as longas margens,
entrelaçam as mãos suadas.

Peles ao sol queimando,
os campos em luz vibrando,
a sombra na passada ficando
e o senso de amor... é brando.

O sorriso rasga-se e ali fica,
descalços... os pés e a vida,
a terra seca abraça o cerne,
engole a semente e expande.

Chove! caem gotas que viajam,
acima choram o tempo que param,
abaixo um beijo que desejaram,
a inesperada paixão encontraram.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

O Bailado




Ébrio, feliz e cinzento,
pairou no céu a nuvem,
tapou o sol com desdém,
choveu um sabor e tanto... tanto.

Tanto amor!... tanto pudor,
cerraram-se os olhos à alma,
fugiram os cavalos à dor
como presas dessa velha arma.

Dizem que o tempo cura,
mas o tempo não se possui,
é apenas algo que perdura
na liberdade do que já fui.

Velhas cantigas de amor
ecoaram despidas de valor,
nesta vida... escute-se a morte,
o silêncio dum bailado que morre.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Esticanço




Menino insano e rebelde,
que foste tu fazer à rede?...
estás emaranhado, serpenteado,
tolhido pelo comboio amado.

Bum! o Som... o desenho
incompleto de uma linha,
és vida incerta e desejo fatal,
és fumo de um estranho final.

Nas cordas que roçam em ti,
esticam as lembranças de mim,
rompem-se os laços carmím,
suplico que retornem a ti.

Reinvente-se o futuro,
que os santos do passado
são demónios de ouro,
neste presente desajeitado.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Lágrimas Em Peso




Lento e frio... passou a brisa,
o coração pequeno e arrefecido,
já nada nem ninguém é tão gelado,
como a solidão que o atemoriza.

Aquela chama que ardeu,
fome e sede que se perdeu,
a alma se fez sombra...
fez-se a morte em sua honra.

Caem lágrimas em peso,
água desfeita em beijos,
anos e anos envenenados
pelo amor que não vejo.

giram véus e anjos caídos...
a desgraça de uns quantos
é a fortaleza! de tantos,
quantos sabem o que é a vida.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

...das Cinzas



O mundo a teus pés,
deslizou num revés,
já não vês quem és,
és bosta de lés a lés.

Amaste e odiaste sem saber
nesse sonho tornado real,
apenas matou o teu ideal,
findou o tempo de perder.

Pára tudo! suspira... delira,
não há desespero em espera,
uma solução na tua quimera
serão as vagas do que era.

O amor começa no fundo,
moliço que aduba o teu mundo,
mais cedo ou mais tarde,
abraçarás a fera que arde.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Cão De Morte



Nesse mar de sonhos,
tu flutuas a imaginação,
não aguentaste a mesma canção,
desamaste sem razão.

Estrangulei a emoção,
fustiguei o meu coração,
Embalei-te como um cão
a lenga-lenga da quarta estação.

Agora... canto sem emoção,
nas horas do recobro,
Abro a janela num sopro,
logo perco a respiração.

Ão Ão... Ão Ão,
nesse tom de razão,
ladra ofegante na prisão
a sua rouca solidão.

domingo, 24 de outubro de 2010

Guerra De Flores



Dois dias e um selvagem,
touro enraivecido sem viagem,
Perdeu a mestria do coração,
Ganhou a força da religião.

Abro as mãos... transparentes,
Abraço-me sem querer,
Afogo-me neste meu ser...
Desperto a morte que sentes!

Sem conteúdo... apenas moldado,
pela forma humana que esculpiste,
sou o animal que arruinaste
Sou um homem tornado soldado.

Nas trincheiras adormeço
esta guerra de flores,
batalha de aromas e fedores,
amores e doenças que padeço.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O Fogo da Alma




O investimento da sabedoria
não cabe na mão de uma vida,
a gente é distraída... primária,
Animais falantes de palavra falida.

A quem nós rasteiramos,
é de quem dependemos,
no vazio traímos,
a ausência de quem seremos.

Este surto eufórico de calor,
tão depressa arrefece,
tão devagar se esquece,
como paixão caída em desamor.

O entendimento volátil arrelia,
é como pedra desfeita em areia,
lá cresce água queimada,
e se cultiva o fogo da alma.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O Real No Todo




Julgamos nós perceber do que vivemos,
coitados daqueles... colados ao vento,
Ofereço-lhes um sarcasmo de contentamento,
Caramba! eu desenrolo os descabimentos.

este sentir do momento,
coração que se abre sozinho,
persegue lento seu caminho
contra esse vento ciumento.

mais vale um sonho num canto,
que o real no todo,
delicia-se o rapazinho,
sozinho e triste no seu lodo.

quem nos dera a nós!
acompanhá-lo a sós,
cambada de virgens de alma...
vendem tudo o que é chama!

e depois vem o agora,
porra! não estava previsto,
perdeu-se o sonho de outrora
ficou o canto no seu triste...