terça-feira, 30 de novembro de 2010

O Bailado




Ébrio, feliz e cinzento,
pairou no céu a nuvem,
tapou o sol com desdém,
choveu um sabor e tanto... tanto.

Tanto amor!... tanto pudor,
cerraram-se os olhos à alma,
fugiram os cavalos à dor
como presas dessa velha arma.

Dizem que o tempo cura,
mas o tempo não se possui,
é apenas algo que perdura
na liberdade do que já fui.

Velhas cantigas de amor
ecoaram despidas de valor,
nesta vida... escute-se a morte,
o silêncio dum bailado que morre.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Esticanço




Menino insano e rebelde,
que foste tu fazer à rede?...
estás emaranhado, serpenteado,
tolhido pelo comboio amado.

Bum! o Som... o desenho
incompleto de uma linha,
és vida incerta e desejo fatal,
és fumo de um estranho final.

Nas cordas que roçam em ti,
esticam as lembranças de mim,
rompem-se os laços carmím,
suplico que retornem a ti.

Reinvente-se o futuro,
que os santos do passado
são demónios de ouro,
neste presente desajeitado.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Lágrimas Em Peso




Lento e frio... passou a brisa,
o coração pequeno e arrefecido,
já nada nem ninguém é tão gelado,
como a solidão que o atemoriza.

Aquela chama que ardeu,
fome e sede que se perdeu,
a alma se fez sombra...
fez-se a morte em sua honra.

Caem lágrimas em peso,
água desfeita em beijos,
anos e anos envenenados
pelo amor que não vejo.

giram véus e anjos caídos...
a desgraça de uns quantos
é a fortaleza! de tantos,
quantos sabem o que é a vida.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

...das Cinzas



O mundo a teus pés,
deslizou num revés,
já não vês quem és,
és bosta de lés a lés.

Amaste e odiaste sem saber
nesse sonho tornado real,
apenas matou o teu ideal,
findou o tempo de perder.

Pára tudo! suspira... delira,
não há desespero em espera,
uma solução na tua quimera
serão as vagas do que era.

O amor começa no fundo,
moliço que aduba o teu mundo,
mais cedo ou mais tarde,
abraçarás a fera que arde.